A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL:
Perspectivas Sobre o Brincar e o Aprender
Andreila Alcântara Teixeira
Larisse Oliveira Araújo
Muito se discute
sobre a importância da ludicidade e suas implicações, porém, há ainda a
significante necessidade de se observar e pesquisar o chão da escola; sobre os
espaços e os recursos lúdico-pedagógicos no âmbito escolar, saindo da teoria
para a prática. Com base nisto, buscamos analisar sobre a presença e o uso
destes elementos na escola, visando ainda compreender de que modo influenciam
no processo de aprendizagem.
O presente trabalho
foi realizado a partir de uma pesquisa exploratória de base inicial,
desenvolvida através de uma observação investigativa com base na cultura e nas
práticas escolares em um período de 10 dias, sendo estes do dia 7 ao dia 19 de
outubro, levando em conta um final de semana, e o feriado do dia do
professor.
Realizamos a pesquisa
em uma escola da rede privada, localizada em um bairro periférico do município
de Jequié, no interior da Bahia. Os nomes usados para se referir a escola e as
pessoas envolvidas na pesquisa são inteiramente fictícios, pois, nosso
interesse não é a denúncia destes, mas sim a análise do tema por nós proposto.
Esta pesquisa tem
como objetivo analisar de que forma os espaços e recursos lúdico-pedagógicos
propiciam meios de aprendizagem, interação e socialização na Educação Infantil,
visando analisar também como estes elementos vêm sendo utilizados,
investigando, consequentemente, o diálogo existente entre o ato do brincar e do
aprender dentro do processo educativo, e de como estes influenciam diretamente
na formação da criança como ser social e em sua construção individual e
coletiva.
Pensamos também que
os benefícios do brincar não se restringem na infância, pois o ato do brincar é
essencial para o desenvolvimento da criança, e assim, carrega consigo o
aprendizado para toda a vida. Assim também não visamos aqui a ludicidade como
algo solto, mas como processo dotado de intencionalidades na aprendizagem.
Vygotsky (2007) traz
a importância do brinquedo na infância e da interação ocorrida entre a criança
e o brinquedo. De acordo com o autor, o brinquedo é um elemento fundamental
para o desenvolvimento da criança. Segundo Vygotsky:
[...] “No brinquedo,
a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além
do seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que ela
é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas
as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo uma
grande fonte de desenvolvimento.” (VYGOTSKY, 2007, p.134).

ACERVO PESSOAL
Assemelhando-se
demasiadamente à visão de Vygotsky, Froebel (1877) vem falar sobre as
brincadeiras. De acordo com a visão frobeliana, as brincadeiras são de extrema
importância para o desenvolvimento da criança, pois estas estimulam o ato de
pensar, refletir, assim como estimulam sua imaginação e sua criatividade. O
autor traz também a valorização do brincar livre, espontâneo. No brincar, a
criança é livre, sem amarras, sem padrões, portanto, se expressa como realmente
é. Como afirma Froebel:
“As brincadeiras são as folhas germinais de toda a vida futura; pois o
homem todo é desenvolvido e mostrado nela, em suas disposições mais carinhosas,
em suas tendências mais interiores.” (FROEBEL, 1877, p. 55-56).
ACERVO PESSOAL

Indo mais além no que
diz respeito a ludicidade e o processo de desenvolvimento, Almeida afirma que a
ludicidade não é diversão somente, no entanto ela é uma necessidade do homem,
seja qual for a idade, visto que o lúdico auxilia no processo de
desenvolvimento de diversas áreas da vida humana.
“A ludicidade é uma
necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como
diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o
desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental,
prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização,
comunicação, expressão e construção do conhecimento.” (ALMEIDA, 2009).
Silva traz o conceito de aprendizagem a partir de Vygotsky; afirmando
que a aprendizagem se dá através de experiências sociais.
“A aprendizagem é uma
experiência social, mediada pela utilização de instrumentos e signos.”
(SILVA, 2019).
ACERVO PESSOAL

A metodologia utilizada para o desenvolvimento desta pesquisa foi
dividida em três etapas: a primeira, partir de uma observação investigativa e
participante - modus vivendi - onde observamos, por uma via
antropológica, os hábitos praticados na Escola Aquarela, mais precisamente na
turma do maternal, seguindo seus horários e seus rituais; na segunda etapa,
realizamos uma entrevista com a professora regente da turma observada e com a
diretora da escola. Tendo como encerradas as etapas anteriores, fizemos a
análise e o desenvolvimento dos aspectos observados durante a observação e a
entrevista.
A escola observada foi a Escola Aquarela, localizada no bairro Cidade
Nova, próxima a BR 116. A instituição foi fundada em 2014, possui 170 alunos,
sendo 2 autistas. Há 6 turmas por turno, e, segundo a diretora, Dona Mônica, a
escola possui um PPP. Ela diz que todos os professores atuantes na escola
possuem formação.
Conversando com Magali, professora regente da turma por nós observada,
perguntamos como ela enxerga a relação do lúdico e das brincadeiras na
aprendizagem das crianças. Ela respondeu da seguinte forma:
“Brincar faz parte da infância. Sendo
assim, o lúdico é um grande facilitador no processo de aprendizagem das
crianças. O lúdico pode ajudar tanto no campo cognitivo, quanto no psicológico,
social e afetivo. Neste sentido, associo o lúdico e o brincar como uma prática
pedagógica de enorme contribuição para o desenvolvimento infantil.”
Analisamos que, há a presença de espaços e recursos lúdicos por toda a
escola, assim como um forte uso da ludicidade no desenvolvimento das aulas e
das atividades propostas. Percebemos porém que não há muito tempo destinado ao
brincar livre. A escola possui uma área com parquinho e um espaço para as
crianças, porém as crianças malmente usam. Na hora que seria do recreio, elas
lancham na sala, e lá permanecem. Quando brincam, é sentados, com uns brinquedos
em cima da mesa. Se correm ou saem da sala, são logo repreendidos pela auxiliar
de classe, que pedem para as crianças pararem com a bagunça e sentar quietos.
A professora não consegue administrar o tempo para aplicações das
tarefas; antes que consiga concluir a última atividade chega o horário das
crianças irem para suas casas.
Através dos resultados obtidos na observação das práticas executadas na
Escola Aquarela e da observação de sua cultura escolar, mais precisamente na
turma do maternal, analisando a presença do lúdico no processo educativo e o
diálogo estabelecido entre o brincar e o aprender, foi possível concluir que a
ludicidade e o ato de brincar são fatores de extrema importância na
aprendizagem e na formação da criança, visto que estes influenciam diretamente
na socialização, na interatividade e na construção individual e coletiva do
indivíduo. As crianças da turma do maternal se envolviam muito mais nas
atividades lúdicas e dinâmicas do que nas atividades tradicionais e mecânicas.
Vimos que algumas crianças, mesmo tão pequenas, já são reprimidas,
introvertidas, e isso, sem dúvida, não pode passar despercebido.
REFERÊNCIAS
- ALMEIDA,
Anne. LUDICIDADE COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO. Disponível em <https://www.cdof.com.br/recrea22.htm>
Acesso em 23/01/2009.
- ARCE,
Alessandra. BRINCAR - O JOGO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA TEORIA DA
ATIVIDADE. Disponível em <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/brincar-o-jogo-e-o-desenvolvimento-infantil-na-teoria-da-atividade/5756>
Acesso em 24/11/2019.
- VYGOTSKY,
Lev S.. A FORMAÇÃO SOCIAL DA MENTE. 6ª edição. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
- SILVA,
André Luis Silva da. TEORIA DA APRENDIZAGEM DE VYGOTSKY. Disponível
em: https://www.infoescola.com/pedagogia/teoria-de-aprendizagem-de-vygotsky/
. Acesso em 02/12/2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário