A VIDA E AS AVENTURAS DA PEQUENA
“AN-DREI-LA”
Nascida em Barueri – SP no dia
02/02/2000, ainda sem nome porque o nome o qual
o meu pai escolheu não foi aceito pelo cartório; pois era tido como nome de
prostituta e eu poderia sofrer bullying. E então, ele teve que pensar em um
novo nome para mim. Foi escolhido
Andreila, nome esse que foi encontrado em uma revista de nomes para
bebês.
Com 1 ano e 4 meses vim embora para a Bahia junto a minha mamãe para tratar uma doença minha; mas morei com meus avós, tios e primos, pois mamãe estava no acampamento do MST, e o local não me fazia bem.
Pelo motivo de todos da família morarem na mesma casa,
eu estava sobre muitas influências. Meu tio João sempre eclético, ouvia todo
tipo de música e assistia todo tipo de filme, e isso ajudou a construir o meu
gosto musical, geralmente, eu não ouço só um estilo musical no
dia, a minha playlist está sempre no aleatório.
Aos 3 anos fui morar no Assentamento
do MST, apenas minha mãe e eu, pois o meu pai havia falecido; logo depois ela
conheceu o homem que se tornaria o meu pai.


O meu primeiro contato com o ensino
foi aos 4 anos, quando fui inserida na educação
infantil. Era uma Escola Ativa, uma escola do campo, lá mesmo no assentamento;
eu estudei nesta escola até o quinto
ano. A sala onde estudava não era apenas a minha série, pois essa escola tem o
modelo das salas multisseriadas.
Eu recordo de quando eu ganhei o meu
uniforme escolar, o cheiro dele e a minha ansiedade para usá-lo. Minha mamãe
dizia para não ficar pegando-o e que eu só poderia usar quando as aulas
começassem. Mas eu não lembro do meu primeiro dia de aula, no entanto, a minha
mãe lembra bem. Ela diz que ficou aguardando até o momento do recreio caso eu
chorasse; porém, não chorei e quando eu saí para brincar com as coleguinhas
ela me chamou, eu a olhei e a ignorei totalmente. Então ela foi embora para
casa “cuidar dos que fazer”, como ela diz.

A professora que também morava no
assentamento, trabalhava com a gente as cantigas de roda, as historinhas,
brincadeiras e os jogos. Em muitos recreios a professora brincava com a gente; cobra cega, vivo ou morto, amarelinha, e muitas vezes nos levava para colher frutas das árvores que haviam no quintal da escola. Lembro de uma aula sobre pontos cardeais, ela nos levou para fora da escola, naquele sol gostoso da manhãzinha e nos explicou; me lembro que fiquei o dia inteiro pensando "o sol nasce no leste e morre (sim, morre haha) no oeste. COMO?".
Nas férias entre 2005 e 2006, a minha
prima Daiane que devia ter 9 ou 10 anos, ficou em minha casa e nesse período
ela me ensinou a ler. Todos os dias, era dedicado a minha aprendizagem da
leitura e escrita no quintal. O quintal também servia para brincar de escolinha
com as amigas, eu tinha um pequeno quadro negro e o giz eu pedia a professora.
Algumas vezes eu quebrava o giz até virar pó, para usar como talco para as
bonecas.
Quando retornei à escola eu ia na
biblioteca para pegar gibis e levar para casa, os que mais me marcaram foram os
da Turma do Chico Bento.
Por eu morar em uma fazenda, a minha
infância foi o quintal da minha casa e dos vizinhos; as árvores, as represas, os
animais, as frutas, e principalmente o cacau verde que mamãe fazia salada para
eu lanchar à tarde. Outra fruta que fez parte da minha infância e que também me
lembra muito a minha amiguinha dessa época, a Camila, é a ciriguela. Ambas companheiras das tardes de aventuras.
Eu tinha muitos brinquedos, tantos
que eu mal conseguia brincar com todos eles. Os meus favoritos eram os carros;
eu tinha uma caçamba de lixo que era a minha paixão. Eu ainda tenho um dos
meus primeiros brinquedos, um avião vermelho que meu pai biológico me deu, ele
funcionava à pilha, porém ele está quebrado, eu não sei como isso ocorreu. Além
desses ainda tenho uma prateleira para brinquedos feita de madeira por um
conhecido da família, ele também fez uma cama para boneca mas já não a tenho
mais. Eu também tinha muitas bonecas, mas eu não gostava muito de brincar com
elas, então eu as riscava, rasgava a boca delas e etc. (mas nada contra
bonecas).

Papai quando acordava (muito cedo
aliás) ouvia músicas sertanejas no seu rádio, e eu levantava assim que ouvia, e
tomava café da manhã com ele ouvindo o programa “Canta Viola”.
Meus pais e todos os meus familiares
sempre foram liberais; eu tive muita liberdade dentro e fora do ambiente
escolar, familiar e congregacional (igreja); sempre que tentavam me pressionar
a fazer algo, a minha cara não negava o desconforto e muito menos a minha
língua, e até hoje eu sou assim.
Um meio que eu frequento desde o
ventre é a igreja (protestante).

Bem, a primeira fase da minha vida
foi sofrida, tanto nos aspectos de saúde quanto emocionais mas essas
experiências não me afetam tanto quanto antes, eu nem lembro de ter estado
doente um dia, e voltei para a minha mamãe, e estar com ela é ser feliz mesmo
que estando longe.
Pensando na minha infância especificamente nos aspectos do brincar e do ser que eu era, percebo que existem várias infâncias, essa foi a minha; singular. Nem todo mundo viveu experiências parecidas as minhas ou eu as delas. Eu fui uma criança livre, de imaginação livre, mas nem todas foram assim ou no mesmo nível de liberdade e/ou imaginação. Grata a Deus por cada vivência.
Deixo aqui uma frase de Clarice Cohn:
Pensando na minha infância especificamente nos aspectos do brincar e do ser que eu era, percebo que existem várias infâncias, essa foi a minha; singular. Nem todo mundo viveu experiências parecidas as minhas ou eu as delas. Eu fui uma criança livre, de imaginação livre, mas nem todas foram assim ou no mesmo nível de liberdade e/ou imaginação. Grata a Deus por cada vivência.
Deixo aqui uma frase de Clarice Cohn:
"A infância é um modo particular, e não universal, de pensar a
criança.".
Oi Andreila,
ResponderExcluirQue história linda a sua, vivenciou um acampamento do MST e aprendeu a ler com sua prima. Emocionda com sua narrativa.Penso que para avançar, você precisa articular as teorias da disciplina de Marilete.
Que belo relato Andreila, é visível o quanto a sua infância foi emocionante.
ResponderExcluirOtimo relato amiga!! emocionante, preciso saber mais dessas historia pessoalmente. trouxe otimas abordagens parabéns!!!!!
ResponderExcluirSua história de vida é emocionante e linda.
ResponderExcluirGrata pelos comentários colegas sz. Claro amigo, vamo marcar o rolê para contar nossas vivências.
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