quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Memórias da Educação Infantil


A VIDA E AS AVENTURAS DA PEQUENA “AN-DREI-LA”

Nascida em Barueri – SP no dia 02/02/2000, ainda sem nome porque o nome o qual o meu pai escolheu não foi aceito pelo cartório; pois era tido como nome de prostituta e eu poderia sofrer bullying. E então, ele teve que pensar em um novo nome para mim. Foi escolhido  Andreila, nome esse que foi encontrado em uma revista de nomes para bebês.
Com 1 ano e 4 meses vim embora para a Bahia junto a minha mamãe para tratar uma doença minha; mas morei com meus avós, tios e primos, pois mamãe estava no acampamento do MST, e o local não me fazia bem.
Pelo motivo de  todos da família morarem na mesma casa, eu estava sobre muitas influências. Meu tio João sempre eclético, ouvia todo tipo de música e assistia todo tipo de filme, e isso ajudou a construir o meu gosto musical, geralmente, eu não ouço só um estilo musical no dia, a minha playlist está sempre no aleatório.
Aos 3 anos fui morar no Assentamento do MST, apenas minha mãe e eu, pois o meu pai havia falecido; logo depois ela conheceu o homem que se tornaria o meu pai.


                                     
                

O meu primeiro contato com o ensino foi aos 4 anos, quando fui inserida na educação infantil. Era uma Escola Ativa, uma escola do campo, lá mesmo no assentamento; eu estudei  nesta escola até o quinto ano. A sala onde estudava não era apenas a minha série, pois essa escola tem o modelo das salas multisseriadas.
Eu recordo de quando eu ganhei o meu uniforme escolar, o cheiro dele e a minha ansiedade para usá-lo. Minha mamãe dizia para não ficar pegando-o e que eu só poderia usar quando as aulas começassem. Mas eu não lembro do meu primeiro dia de aula, no entanto, a minha mãe lembra bem. Ela diz que ficou aguardando até o momento do recreio caso eu chorasse; porém, não chorei e quando eu saí para brincar com as coleguinhas ela me chamou, eu a olhei e a ignorei totalmente. Então ela foi embora para casa “cuidar dos que fazer”, como ela diz.
                                 




A professora que também morava no assentamento, trabalhava com a gente as cantigas de roda, as historinhas, brincadeiras e os jogos. Em muitos recreios a professora brincava com a gente; cobra cega, vivo ou morto, amarelinha, e muitas vezes nos levava para colher frutas das árvores que haviam no quintal da escola. Lembro de uma aula sobre pontos cardeais, ela nos levou para fora da escola, naquele sol gostoso da manhãzinha e nos explicou; me lembro que fiquei o dia inteiro pensando "o sol nasce no leste e morre (sim, morre haha) no oeste. COMO?".
Nas férias entre 2005 e 2006, a minha prima Daiane que devia ter 9 ou 10 anos, ficou em minha casa e nesse período ela me ensinou a ler. Todos os dias, era dedicado a minha aprendizagem da leitura e escrita no quintal. O quintal também servia para brincar de escolinha com as amigas, eu tinha um pequeno quadro negro e o giz eu pedia a professora. Algumas vezes eu quebrava o giz até virar pó, para usar como talco para as bonecas.
Quando retornei à escola eu ia na biblioteca para pegar gibis e levar para casa, os que mais me marcaram foram os da Turma do Chico Bento.
Por eu morar em uma fazenda, a minha infância foi o quintal da minha casa e dos vizinhos; as árvores, as represas, os animais, as frutas, e principalmente o cacau verde que mamãe fazia salada para eu lanchar à tarde. Outra fruta que fez parte da minha infância e que também me lembra muito a minha amiguinha dessa época, a Camila, é a ciriguela. Ambas companheiras das tardes de aventuras.
Eu tinha muitos brinquedos, tantos que eu mal conseguia brincar com todos eles. Os meus favoritos eram os carros; eu tinha uma caçamba de lixo que era a minha paixão. Eu ainda tenho um dos meus primeiros brinquedos, um avião vermelho que meu pai biológico me deu, ele funcionava à pilha, porém ele está quebrado, eu não sei como isso ocorreu. Além desses ainda tenho uma prateleira para brinquedos feita de madeira por um conhecido da família, ele também fez uma cama para boneca mas já não a tenho mais. Eu também tinha muitas bonecas, mas eu não gostava muito de brincar com elas, então eu as riscava, rasgava a boca delas e etc. (mas nada contra bonecas).
  



Papai quando acordava (muito cedo aliás) ouvia músicas sertanejas no seu rádio, e eu levantava assim que ouvia, e tomava café da manhã com ele ouvindo o programa “Canta Viola”.
Meus pais e todos os meus familiares sempre foram liberais; eu tive muita liberdade dentro e fora do ambiente escolar, familiar e congregacional (igreja); sempre que tentavam me pressionar a fazer algo, a minha cara não negava o desconforto e muito menos a minha língua, e até hoje eu sou assim.
Um meio que eu frequento desde o ventre é a igreja (protestante).


Bem, a primeira fase da minha vida foi sofrida, tanto nos aspectos de saúde quanto emocionais mas essas experiências não me afetam tanto quanto antes, eu nem lembro de ter estado doente um dia, e voltei para a minha mamãe, e estar com ela é ser feliz mesmo que estando longe.
Pensando na minha infância especificamente nos aspectos do brincar e do ser que eu era, percebo que existem várias infâncias, essa foi a minha; singular. Nem todo mundo viveu experiências parecidas as minhas ou eu as delas. Eu fui uma criança livre, de imaginação livre, mas nem todas foram assim ou no mesmo nível de liberdade e/ou imaginação. Grata a Deus por cada vivência.
Deixo aqui uma frase de Clarice Cohn:

 "A infância é um modo particular, e não universal, de pensar a criança.".

5 comentários:

  1. Oi Andreila,
    Que história linda a sua, vivenciou um acampamento do MST e aprendeu a ler com sua prima. Emocionda com sua narrativa.Penso que para avançar, você precisa articular as teorias da disciplina de Marilete.

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  2. Que belo relato Andreila, é visível o quanto a sua infância foi emocionante.

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  3. Otimo relato amiga!! emocionante, preciso saber mais dessas historia pessoalmente. trouxe otimas abordagens parabéns!!!!!

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  4. Sua história de vida é emocionante e linda.

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  5. Grata pelos comentários colegas sz. Claro amigo, vamo marcar o rolê para contar nossas vivências.

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Memórias da Educação Infantil

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